5 de agosto de 2017

Agenda: Jazz em Agosto II



A dupla assina como EITR, o que aponta genericamente para a mitologia nórdica e especificamente para aquela líquida substância presente nas crenças da Escandinávia pré-cristã, a partir da qual se cria ou destrói a vida, de efeito deletério no seu estado puro, bastas vezes associada à peçonha das serpentes. Ouça-se o sugestivo “Trees Have Cancer Too”, um disco lançado em 2013 numa edição limitada a 150 unidades, e dir-se-ia que Pedro Sousa e Pedro Lopes (na foto) teriam caído em pequenos no caldeirão do eitr. Nomeadamente porque – e é disso que se trata – se dedicam a uma expressiva transformação das funções vitais da música, aqui em iterações primordiais, capaz de trazer à memória a autoridade da negação que por vezes há na arte, conquanto não se coíba de engatar a embraiagem da circunstância. Estão respetivamente ao saxofone e no gira-discos (embora Lopes não recorra a fonogramas propriamente ditos) e os seus sinais estão em trânsito permanente, a testar aproximações ao curto-circuito, o colapso de um sistema como crescimento desse sistema. São hoje esperados às 18h30 no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do Jazz em Agosto, este ano consagrado concetualmente a um “campo vasto de contaminações transformadoras” mais ou menos endógenas. Impulso que terá estado presente na origem do grupo há 30 anos constituído por Jim Black, Chris Speed, Andrew D’Angelo e Kurt Rosenwinkel (Human Feel), e que às 21h30 subirá ao Anfiteatro ao Ar Livre, para não falar, já, na formação do quarteto High Risk, por Dave Douglas, em que a sua trompete é como o narrador que anda pelo cosmos à cata de sentimento num filme de ficção-científica – encerra amanhã o festival às 21h30.

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